“Turnê”, um filme de Mathieu Amalric que conta com o próprio diretor no elenco principal. Além de Amalric, também fazem parte do elenco Miranda Colclasure, Suzanne Ramsey e Ângela de Lorenzo.
O filme é uma produção francesa que trará de volta o neoburlesco. “Turnê” ganhou o Prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes (2010) e nos mostra uma história incrível de superação e força de vontade. O roteiro foi escrito pelo diretor Mathieu Amalric com a ajuda de Philippe Di Folco, Marcelo Novais Teles e Raphaelle Valbrune.
Sinopse:
Joachim, um dia produtor de televisão em Paris, deixou tudo para trás: filhos, amigos, inimigos, amores e arrependimentos, para começar uma nova vida na América. Mas ele retorna. Só que com um grupo de strippers – “New Burlesque” – que ele encheu de ilusões sobre uma grande turnê na França, sobre Paris.
Viajando de cidade em cidade, mesmo com os hotéis baratos e a falta de dinheiro, as belas meninas criam um mundo de fantasias, quente e hedonista, que agrada a todos, tanto homens quanto mulheres. Os sonhos do grande último show que seria feito em Paris são destruídos quando um velho amigo de Joachim o trai, e ele perde o teatro onde a apresentação iria acontecer. A viagem obrigatória a capital abre violentamente feridas do seu passado.
É curioso observar como as relações implícitas não fazem diferença para a história. Quem é a mãe de seus filhos, por que eles se separaram, como ele descobriu cada uma das dançarinas e os motivos pelos quais elas abandonaram o país para viver aventuras na estrada e nos palcos… nada disso é importante. O que faz diferença é a maneira como Amalric delineia cada personagem em várias nuances: Joachim é um homem amoroso e dedicado ao show, tratando as mulheres como sua única família, suas amantes. As strippers – no filme e também na vida real – não são, ao contrário do que pode parecer, o estereótipo do grotesco; são sensíveis, divertidas e deliciosas de se assistir, em suas plenas peculiaridades.
O show de cada uma representa um fragmento de suas personalidades extravagantes (em alguns belíssimos momentos) e, ainda assim, Amalric teve a sensibilidade de não expor a vida dos personagens por completo, de modo que o que não é mostrado na tela se torna ainda mais prazeroso de imaginar. Essas características são salientadas através de pequenos detalhes, como o fato de Joachim constantemente pedir para que desliguem ou abaixem a música ambiente dos lugares em que está, de roubar balinhas dos balcões, ou a melancolia de Mimi Le Meaux, que só mostra seu sorriso pleno quando está nos palcos.
Algumas cenas ressaltam a ideia que Amalric tinha de fazer um filme sobre a paixão e a família, de mulheres para mulheres – coisa que as próprias dançarinas fazem questão de relembrar o tempo todo. Quando Joachim flerta com a caixa do posto de gasolina, quando se declara para a trupe ao microfone, ou até mesmo nos relacionamentos de adoração, que ele estabelece com Mimi, ou mal-resolvidos – estabelecido com os filhos (que ao mesmo tempo parecem gostar do pai e desprezá-lo), vemos relances da personalidade completa dos personagens e de seus valores éticos e morais (bons ou ruins). Mais do que isso: Joachim declara abertamente que aquela é a sua família e que o show deve continuar, não importa o quão solitários eles possam se sentir.
Graças ao talento inato de Amalric e às sinceras atuações das novatas atrizes (sem contar a excelente trilha sonora), Turnê torna-se um filme bonito justamente por induzir – ao invés de contar – as resoluções das vidas daquelas pessoas, complexas à sua própria maneira – caricata, tímida ou escandalosa -, que carregam o peso da fuga de seus problemas e a dúvida do futuro incerto. Futuro que nós também não podemos adivinhar. Somente imaginar.
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